Bom dia !
Hoje é domingo e estou cansado de uma semana com problemas político-econômicos, político-financeiros, político-monetários, político-morais, ético-políticos, cívico-políticos, político-políticos, etc e tais..., em um mês repleto deles, em anos repletos deles.
Não agüento mais os informes, jornais, tuíteres, conversas e mais conversas, acusações de propinas, desvios, roubalheiras, desmandos, corrupções, propagandas políticas enganosas, paternalismos políticos, nepotismos, impunidades e insinuações de uma “neo-ditadura-de-extrema-falta-de-vergonha”.
Agora são duas horas do novo dia, Morfeu já dormiu e não estou com vontade de discutir tais assuntos. Vou deixá-los com um poema meio verso, meio prosa e cansaço, de Eduardo Alves da Costa, intitulado, No caminho com Maiakovski, escrito sabe Deus quando e que foi publicado em meados dos anos 80 do milênio passado, ao final do período das fardas e estrelas. O obra tem como características o teor político e , exceto pela citação inicial, de ideais diametralmente opostos aos do regime militar brasileiro (e outros), não tem prazo de validade.
À partir de “Tu sabes”, deixo o domingo político a critério da reflexão de cada um.
Leia o poema:
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakosvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm,
a ninguém é dado repousar a cabeça, alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo,
por temor, nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas, amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade,
como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo
acabo por repetir:
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei porque não estou amedrontado
a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra,
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita,
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas, se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
Ótimo domingo